sábado, 23 de janeiro de 2010

O Downhill

Eu adoro quase tudo o que seja desportos, desde que me conheço por gente já pratiquei um porradão de actividades desportivas, Futebol, Futsal, Karaté, Taekwondo, Ténis, Squash, Musculação, BodyBoard, Golfe, uns Federado, outros com amigos e por pura carolíce.

Algumas destas actividades já me renderam, dedos partidos, roturas de ligamentos nos joelhos, nos tornozelos, ruturas no tendão de aquiles, um quase afogamento, enfim, um sem número de situações animadas que, ao todo, já me renderam estadias em hospitais, meses e meses de muletas e algumas dezenas de sessões de fisioterapia.

Não convencido com o que um médico nas urgências do Hospital de Cascais, numa das minhas visitas àquela "prestigiada" instituição, me disse enquanto me engessava uma perna (...vocês não aprendem que o desporto só faz mal à saúde...), mais recentemente decidi, em conjunto com o meu irmão, "inventar" um bocado no Downhill/Freeride.

Para os menos familiarizados com a modalidade, esta actividade consiste num gajo, que tem de ser no mínimo meio-maluco, a descer em cima de uma bicicleta por uma serra abaixo, entre calhaus, valetas, terra, lama, arvores e arvoredos, a velocidades, de por vezes (já nós atingimos!), mais de 50 kms/h.

Ora como não podia deixar de acontecer isto, para o meu lado, já deu para o torto umas 2 ou 3 vezes.

A primeira foi logo no dia inaugural da nossa experiência na modalidade.
No final da descida da serra de Sintra, acabamos a maior descida sem incidentes a assinalar e chegamos á barragem do Rio da Mula.

O meu irmão, que tem uma boa dose de maluqueira enfiada naquela cabeça gadelhuda que ele tem, decide ali junto à barragem descer um sulco e acabar com um salto para a margem da barragem ,já quase junto à àgua. E se assim o decidiu melhor o executou. Com uma técnica brilhante, deslizou sulco abaixo acabando com um salto pleno de técnica (entretanto 2 outros BTTistas admiravam a habilidade dele do outro lado da barragem.

Eu, já plenamente convencido de que aquilo ía dar para o torto, ainda lhe perguntei com ar decidido e de quem apenas quer avaliar o grau de dificuldade do óbstáculo "então, faz-se bem?", resposta óbvia "na boa...", pois claro nem poderia ser de outra forma.

Nada nada convencido com aquela resposta, até porque o meu irmão apesar de ser quase 4 anos mais novo que eu, sempre foi mais afoito e destemido naquelas coisas, montei na bicicleta (os outros 2 lá continuavam a observar como quem adivinhava o que aí estava para vir) e comecei a fazer a descida, em pé nos pedais, e de dedos nos travões as rodas começaram a delizar e 2 segundos depois, estava deitado no chão com uma aguda e lacinante dor na peida, que me apanhava perna abaixo e me apanhava costas acima, que até me pôs a ver tudo branco.

O épico bate-cu que mandei, mesmo em cima de um calhau que se atravessou, sem avisar, à minha frente, foi o pior de toda a minha existência. Enquanto o meu irmão me dava água à boquinha e me punha um chocolate na boca para que o açucar me despertasse os sentidos que se estavam a perder, os outros dois riam (pois claro) da minha triste figura naquele primeiro dia de Downhill.

Após recuperado do incidente, com as nalgas negras e esfoladas, lá continuamos o nosso caminho rumo à Amoreira, como era o primeiro dia, desde há muito, que andava de bicicleta, até chegar a casa do meu irmão aquela "voltinha" pareceu-me uma viagem de 2500kms pelos vales do demónio. Parei 790 vezes, tive cãibras que nem andar me deixavam, mas lá chegámos ao destino.

A semana seguinte, principalmente os primeiros dias, foram longos, doridos e pesarosos, no entanto no domingo seguinte lá estávamos nós novamente a descer a Serra de Sintra.

Depois deste episódio, já fiquei pregado a uma árvore numa curva a alta velocidade mal calculada, já fiquei enfiado num molho de cardos da cabeça até à cintura (e aquela porra picava), e já descemos a serra com um verdadeiro diluvio, com calor de morte, de manhã, ao final da tarde, de todas as formas possíveis e imagináveis sem nunca desistir.

Apesar de todas as dificuldades, dores e esforço dispendido nesta modalidade, o respirar aquele ar puro da serra profunda, é uma sensação de inacreditável bem estar e leva, principalmente ao domingo de manhã, milhares de pessoas á Serra de Sintra, onde independentemente de nos conhecermos ou não, todos nos cumprimentamos, à medida que nos vamos cruzando, nos trilhos e single tracks da serra.

Já há uns tempos que não vamos descer a serra e já sinto algumas saudades, espero que possamos retomar as nossas descidas em breve.

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